Num mundo comprimido pela globalização, democratizou-se a possibilidade de viajar, porque, à partida, tudo é mais perto e mais barato. Daí uma nova necessidade que assola o seu humano: a de resistir à tendência de nos fixarmos num lugar, a de permanentemente mudar de sítio. Mas mudar de sítio será sempre a melhor e mais económica maneira de ficar no mesmo lugar. Talvez por essa razão sejo o aeroporto o lugar que melhor simboliza e representa o mundo globalizado. E a sua tragédia, pelo tempo que aí se perde, à espera das malas que se transviaram.
"Com a compressão do tempo que carateriza a globalização, generalizou-se a valorização do meio de transporte, e este leva a melhor sobre a viagem em si mesma. No momento em que escrevo, os painéis publicitários nos cais do metro de Paris propõem uma estadia de um fim-de-semana em Hong-Kong, ou seja, umas férias em que a duração da deslocação é maior que a da estadia. No fascínio pela velocidade, o ato de partir predomina sobre o destino da partida. Daí decorre o sucesso das viagens «em saldo», postas a leilão alguns dias antes da partida. A escolha do destino é feita por defeito. Desejávamos ir a Marraquexe e acabamos por ir a Túnis. A localização do destino tem menos importância que o facto de se partir - o que permanece intocável é a escolha do meio de transporte, o avião. E certamente também o caráter onírico do trajeto, do itinerário. Já um século antes, Passepartou, o criado que acompanhava Phileas Fogg na sua tentativa de bater o recorde da volta ao mundo, dizia: «Vamos tão depressa que até parece que viajo em sonho.» (Jean-Marc Salmon, Um Mundo a Grande Velocidade, Porto, Ambar, 2002, p. 31)
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