17 abril 2013

Somos hóspedes da vida

"Todos nós somos hóspedes da vida. Não há nenhum ser humano que saiba o significado da sua criação, exceto ao nível mais primitivo e biológico. Não há nenhum homem nem nenhuma mulher que saiba qual o objetivo (se é que existe...), qual o significado possível de ter sido «atirado» para o mistério da existência. Por que é que há algo em vez de nada? Por que é que eu existo? Somos hóspedes deste pequeno planeta, de uma urdidura infinitamente complexa, quiçá fortuita, de processos e mutações evolutivas que, em inúmeros estádios, poderia ter seguido um outro curso ou testemunhado a nossa extinção. Acabámos, aliás, por nos tornar hóspedes vândalos, produzindo lixo, explorando e destruindo outras espécies e recursos. Estamos a transformar rapidamente este ambiente extraordinariamente belo e intrincadamente perfeito, e inclusive o espaço sideral, numa lixeira venenosa. Há caixotes do lixo na Lua. Por mais inspirado que seja o movimento ecológico que, juntamente com a emergente perceção dos direitos das crianças e dos animais, é dos poucos capítulos esclarecidos do nosso século, é bem possível que tenha vindo demasiado tarde."
(George Steiner, Errata: revisões de uma vida, Lisboa, Relógio D'Água, 2009, pp. 70-71) 
Pequeno texto dum dos mais inspirados e inspiradores intelectuais da atualidade, que pode ser utilizado para o início do tema 9.1 - Os fins e os meios: que ética para a vida humana?.

1 comentário:

  1. Magnífica reflexão, estou tentado a comprar o livro. Mas porque não sou dotado prás lides filosóficas, também me pergunto: porque é que temos de saber o «significado da nossa criação»? Isto não é pressupor que tem de haver algum? E porque é que tem de haver algum significado? A planta tem algum significado? o animal tem algum siginificado? E para se encontrar algum significado, não é preciso primeiro saber do que é que falamos? Bem, falamos do Homem, dir-se-á....Pois..., mas o que é o Homem? e mais concretamente, «quem sou eu»? Já alguém respondeu a esta pergunta? (acho que não, mas não sei bem). E se não sabemos «quem somos», como podemos querer descobrir o «nosso» significado? E como podemos saber que «eu existo»? Que «eu» existe? (e lá voltamos à questão,como um cão atrás da cauda: «quem sou eu»?). Amigão, tu és a pessoa certa para ajudar a pôr um pouco d´ordem nestas cabeçorras duras...
    Obrigado pelos magníficos textos.

    ResponderEliminar